27 de jun. de 2018

Poema em Linha Reta


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. 
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... 
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos, 
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo? 
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? 
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. 

Fernando Pessoa (Alvaro de Campos)
Mas poderia ter sido eu.

12 de jun. de 2018

Resposta


Mister Big:Tudo bem?, Tudo indo da melhor forma.
Tem gente que esquece que não é o “que ela passa ou passou” que define sua identidade. Não é uma questão central os eventos, mas periférica. (aprendi) 
Ta tudo sempre acontecendo. Mas há que se olhar a repetição.
E se  formos coerentes coisas boas e coisas ruins acontecem e ninguém tem explicação pra isso, a não ser ancorar a alma na Soberania e fim. Não há como escapar.
Vamos abracar o paradoxo da vida; que não vai mudar mesmo que você lute para desistir.
Essa semana que passou o aplicativo de musica colocou no meu Flow umas coisas que eu amo baseado  nas coisas que estava ouvindo, saiu o Skank e eu tipo gosto muito deles!
gosto com mais mel do Jota, mas Jota é a vida colada em outra vida que nem ta mais por aqui. Deixa na gaveta.

Resposta. Ouça depois. 
Eros e Vênus numa disputa acirrada (um com pretencoes cristas, outro com manchas seculares, uso, doação, fuga, entrega... esse cd ta bem cheio de insight 

Como tenho que assumir que nada depende do outro na minha direção (que alivio afinal) mas de mim. RM12:9-21 como ilustração, prova e contra prova.
“Resposta” é um recorte paradoxal tipo a “Mandrágora” (sorrisos em um momento triste)
Também nesses tempos em que eu penso que minha vida não ta valendo muito a pena leio biografias; Confissoes, Dior, Chanel e do YSL.
Livros, filmes e documentários. Desses e nada mais. To sem saco nenhum pra ler.
Chorei e por algum tempo esqueci da minha própria dor.
vida comum.
estudar.tomar banho. Reabrir pauta no detran, pagar exame medico,filas, pessoas, o trabalho que houver, vender esqueletos. dobrar roupas que não cabem na minha vida mais. sentir frio. acordar e desejar não ter acordado, fazer o que deve ser feito. Avante. Fazer amizades. Não ser só. Intencionalmente.
Contar a verdade, ninguém acreditar, chamar a Gabrielle e ocus pocus... todo mundo acreditar. Baixar o cd do "Strokes" cantar sempre alto. Sempre. Assumir o pretinho básico da Chanel.
Falar pouco, pedir perdão.
Deus sabe, Deus vê, Deus dá, Deus tira e a Gloria continua dele. Tipo Jó. sera que eu nunca vou ver a razão disso? Gostaria.
Meu coração, mesmo tolo é dEle. Não consigo fugir. Coração duro.


ontem ouvi do sétimo andar. Chorei um pouco menos. INCRÍVEL!


Engraçado ter que verdadeiramente resolver coisas, falei com um amigo (que se dizia superprotetor, que se dizia amigo..pra não ser rude,uso a palavra "amigo"ok) que ele jamais terá de mim o que maquina, e manipula pra obter vantagem... eu vejo. Mas além da empatia por ele ter sido abandonado pela família, eu tenho compaixão, que é moral e não abandona o outro. As vezes não ´´e possível a tal paz com todos, mas no que depender de mim???
como fazer pra ser boa?
pra ser na treva um feixe de luz?
pra ser fraterna e efetiva?
Depois de Paulo e Santo Agostinho as coisas complicaram ´pra mim.
Ainda por cima as duas ultimas exposições do Gui la na Igreja expondo meus pecados mais absurdos. Eu não quero brincar com isso gente. Deus te ve! E uma hora vem a pergunta: "onde estás"?

Evidente que começar trocando o que se consome... Entender e resignificar o consumo de tudo. TUDO!TUDO!
deixa lulu santos e liga Paralamas... AndaR a pé, guarda o $ do ônibus.
Não é um bicho de sete cabeças, o fundo do poço tem mola!
Ter a reputação enxovalhada, testada.
Ser considerada ( um monte de coisas estranhas ) sabendo que vc:
“could distinguish Miles from Coltrain”

Assumir a liderança complementarista que disciplina com amor e justiça.Pedir e receber perdão. Ter o pé atrás retirado das suas posturas da vida. (rm12:9-21).
Pecados públicos em pauta e o fracasso não ser só dor, estão rolando os dados para a libertação.
As suas ideias correspondem os fatos?


Acordar sem medo, é igual mergulho com snorkell. Parece outro mundo, nesse mundo.

Baila comigo? Eu gostei! Suquin de maçã eu aceitei. Fiz Playlist mencionando os dois livros. ou a civitas dei, civitas mundi

Maria Maria saiu de dentro de mim protegendo alguém que “ela” achava dever existir. Coitada; morreu à mingua. Mas deu lugar a uma com menos mascaras. 
Sabe que ela parece comigo quando eu ria solto, inocente. Era bom. Mas agora vai ser melhor.
Domingo eu vou fazer agenda nova, pq meu vizinho ouve Periclis, pedi a ele o favor de ouvir baixo pq é um sacooooooo ter que lidar com esse sentimentalismo, cansa.
Aí a gt abandona.

Abraço.

Mi.

4 de jun. de 2018

Pródigo

Muito lúcida,assertiva e realista a apresentação da Cia Ide. Ficou tão nítida a atmosfera de trabalho, construção, dedicação de todos. 
Um momento sublime, onde todos fomos suspensos. Ficou imprevisível ato após ato como a história ia terminar. 
Tudo bem, conheço a parábola. Já li um bocado de livro a respeito.
Fiquei a lamentar o fato de tão precisa análise que consegui fazer, sem fala, só observando. Deu pra sentir na carne as consequências resultantes de tão pessimista perspectiva da realidade que estou passando, de como ecoa pra eternidade o que faço agora. Deu uma vergonha. 
Infelizmente, reunir as características necessárias elencadas no espetáculo para por minha vida nos trilhos, ainda é uma nebulosa, não consigo pensar tão nitidamente. 
Enquanto isso sigo, orando para que o Real chegue.
Esperar é caminhar! 
Estava perdida e fui achada, estava morta e agora vivo. 


3 de jun. de 2018

Nunca tive All Star de cano alto



Bom, voltando: a pessoa se sentir forte, com um pisante rasteiro, rasteiro no sentido de rente ao chão, de raiz, de perto da rua, de perto da vida, isso pra mim sempre foi o túmulo da psicanálise freudiana. Um ser humano de tênis é um ser humano sem problemas ou traumas de Sófocles. Alguém que certamente nunca comeu um Toblerone inteiro assistindo a “O solista” sem dormir ou teve uma raiva assassina do amiguinho do seu filho de dez anos que não convidou ele pra festa. Não tem aquela música dos Smiths? “Some girls are bigger than others”? Então. Pra mim é: quem tem tênis all star de cano alto é bigger than others. O tênis é a escrita simples, é o Manoel de Barros, o Rubem Braga, é a democracia, o amor correspondido, é o cabelo repartido e humilde no domingo de culto. 
alto. Não que eu não tenha tentado. Tentei muito. Usar tênis sempre me pareceu o nirvana da autoestima no departamento “look do dia” pra desafiar um pouco YSL.Falando nele estou completamente apaixonada, genio, precoce, carente, lucido, plexo solar aberto, sofreu tudo, e mudou muita coisa que usamos como moda, inclusive esse termo "look do dia foi cunhado por ele". A pessoa se sentir forte, e grande, grande no sentido inverso, grande pra dentro, grande querendo dizer nobre, nobre querendo dizer bondoso, transcendente — melhor parar porque quando eu começo a expandir o pensamento assim nessas tentativas de ser compreendida vou mais longe do que os stalks que faço no Instagram: às vezes termino em Descartes, às vezes tô debruçada sobre a vida da irmã do meu marido, ativista feminina, uma coisa linda. 
Na infância, não passei pelo Conga e pelo Bamba, e já adolescente fui devota primeiro do Reebok e depois do New Balance e em seguida do Nike Shocks (é assim?) na mesma proporção em que amava Djavan revezava o projeto de pedir meu pai pra ir na matinê da Club E entre Feriados em sítios. A vida no século XX, parceiro, era tão doce e profissional quanto o mar do Caymmi.
Até que eu cresci, ou melhor, não cresci, porque o metro e setenta — E SEIS!!— já me acompanha desde a milhões de idade, e a vida passou a girar em torno de conseguir dois ou quatro centímetros angariados da forma mais discreta possível. Nunca consegui usar scarpin, nem sou boa de andar elegantemente com salto agulha ou plataforma, mas fui me virando com aqueles mocassins e mules covardes e sobrevivendo com as alpargatas possíveis, porque, ao contrário daquele povo superior e evoluído da comunidade Tênis Futebol Clube, eu precisava de um saltinho tipo o sertanejo pra turbinar a confiança nos meus próprios toques, assistências e chutes a gol. Tem também o sapato bicolor da Chanel, que era bicolor,ou a ponta mais escura, pq ela tinha pé grande, e, o bicolor ajuda na diminuição do pé em imagens tipo “tela maior”. 
Mas por que tudo isso? Qual a relevância de questão tão frívola quanto uma categoria de sapato diante do Moro comendo pipoca numa pré-estreia de um filme em que ele faz o Batman e também diante das tragédias brasileiras, como os naufrágios e as recorrentes violências sofridas pelas mulheres nos transportes? Por causa da Rosa. Por causa da Laís. Por causa do cinema. Porque às vezes o trabalho e a vida se encontram num lugar mágico e misterioso que não há razão científica ou método de preparação russa que dê conta de tamanha comunhão entre a vida de todo mundo. Porque eu vi um filme chamado “Como nossos pais”, em que, aos trinta e poucos no CPF e no intervalo entre o primeiro e o segundo tempo do jogo, fui obrigada a ver as agruras das mulheres do nosso tempo. Durante o filme em cima de um par de tênis lona branco e surrado de nome All Star, e sobre ele construí uma visão que iluminou minha vida inteira pra trás e pra frente e me deu a chance de fazer tudo diferente.
Eu sei, tá abstrato. Tô ficando com esse problema. Um pouco de elemento terra, então: A Beatriz bailarina and missionária “gênia”, realizadora de feitos incríveis tipo trabalhar no terremoto do Nepal. Me falou do sertão.Me apaixono. Pela história e pela Valentia de ir receber amor. Passo no teste. Fico feliz. Fico feliz. Fico feliz. Vou deixar a repetição três vezes mas poderiam ser dez. Enfim. Ensaio. Conheço os outros atores. Organizo minha vida pra ficar 15 dias meses em São José do Belmonte e faço combinados firmes e amorosos com meu filho e marido. Eles são absurdamente lindos. Tudo caminha relativamente bem até que na primeira coisa que minha irmã manda por na mala, foram eles...Ali estavam,à espera da pessoa que eu me tornaria quando os incorporasse, à espera de uma retidão de caráter que só a proximidade com a terra é capaz de oferecer. Do chão, ninguém passa.
De posse dos pisantes da missionária Mi, de alguma forma da Bia, e de alguma forma também meus — Carina e Nice no subtexto —, encarei uma jornada vertical que me fez voltar do Sertão com um prêmio de mãe de outros- que meu filho me deu- e, mais importante, que me fez voltar pra Belo Horizonte com um prêmio de pessoa. Tenho recebido um amor por parte das mulheres que viram aquela Camila que até hoje só havia recebido do meu filho e marido: um amor de cumplicidade absoluta e fechamento incondicional, como quem diz “eu sei o que você tá sentindo, eu sei como é, que bom que eu não estou sozinha, vem cá, vamos nos abraçar”.
No finalzinho da viagem, o tênis ficou digno de lixo, mas meu marido disse que era bom eu ficar porque eles estavam lindos, como um ato simbólico de quem agora vai pra fase 2, verdade no comando e prazer profundo nesse novo jeito de viver, mesmo que doa um pouco no começo. Imitona que sou, fiz igualzinho aqui em casa, só que, ao contrário da missionária, o que mandei embora foram os sapatos da Dorothy, aqueles brilhantes, mágicos e reluzentes que a levam pro Mundo de Oz. Aos 32 eu quero a vida do All Star: pé no chão, problemas de frente, e amores imperfeitos.Prova do Titulo!
Eu estou numa vida cheia, com tênis rasgado e coração costurado e você me dá isso.


ps:esse foi escrito quando cheguei do Sertão. algumas pessoas morreram no caminho ate aqui. 

O reino de Deus é um reino de amigos. Hans Burky


Hans Burky  é dele, minha abertura do blog. tenho escrito pouco aqui pq 
"eles me disseram só besteira, disseram só bobeira feito todo mundo diz, eles me disseram que a ratoeira e o prato de ração era tudo o que o cão sempre quis.. me deram uma gaiola como casa amarram minhas asas e disseram pra eu ser feliz"... Djavan.
to sem referencia mental que seja somente minha.
 Mas a gt é esse tanto de assuntos, esse emaranhado de coisas e ok. 

leio tts. 

Fico um pouco triste.
Penso de verdade q Umberto Eco estava bem lúcido ao dizer q a internet popularizou a idiotice, me incluo. Quero amadurecer e custa. é preciso dizer q a universalização do ensino trouxe muitos problemas. E a capilarização da informação sem a base da formação parece estar a serviço da manutenção da popularidade da idiotice. Gente idiota faz tantos absurdos. 
Umberto, amigo tá feia a coisa!
Parecer que saber é diferente de saber. 
Um haicai é poema, mas menor. A beleza tem um núcleo cheio. Há que se ter coragem de dizer isso. 
Inteligência é diferente de informação.
A capacidade de usar nexo, léxico, semântica para fazer o novo, o pensamento q tem raiz, tem que ser estimulado, tem que parar de replicar essa estupidez de que se achar é ser. 
Tá chato.
Olha o Venturini, uma vida -vida pra produzir aquelas coisas.
Falando nisso ontem, vi o filme da Elis e chorei copiosamente. o final parecem meus dias. mas ao inves de fitas eu tenho os livros. 
 1
Tá todo mundo maluco? Não. Isso é coisa seria!
Cadê a reflexão? 
e nego filha da Puta debochando. 
Não fiquei burra de três meses pra cá. Uma dor do mundo passando pelo meu plexo solar. 
Cadê Platão? Não to dizendo que ele é unico. 
Bíblia?
Não tenho lido bíblia o máximo o Lecionário. 
é só