24 de abr. de 2017

Do que somos feitos

Arrisco aqui uma explicação para tantas dores tanto cinza usadas em Agressões.
Primeiro, e com certeza, essa
Enganação filha da puta que sofremos que somos fortes e invencíveis. Porque eu não tinha nem 10 anos quando o Ziraldo foi foi à minha escola No batista conversar com as turmas do terceiro ano e autografou meu livro. Quer dizer, o livro dele. Que ele escreveu. Ou seja: o livro dele, que era dele há um tempão, em um segundo passou a ser meu só porque eu me inscrevi na feira literária do colégio e fiquei na fila pra pegar uma assinatura e configurar uma relação.tenho relações platônicas desde sempre. E, como desde pequena levo a serio esse lance de relação e vi meu nome junto ao de um escritor de verdade dentro do objeto mais importante e misterioso como um Livro — sim, maiúscula —, de alguma forma senti que a partir dali éramos um casal de amigos imaginários. Sim, um casal, ou no mínimo uma dupla, e que portanto eu deveria cumprir com a minha parte no documento, o que significaria ler um pouquinho e escrever de vez em quando nem que fosse um haicai ou uma crônica porque minha orientadora da escola deu essa dica porque segundo ela eu era brilhante (em diários pq já me tratava do tdah naturalmente). Então é obvio que os autores de poesia são culpados.
Depois minha Bá. Porque uma vez eu fiz um versinho de amor pra ela fonte da
Minha alegria de criança, mas a minha ela achou tão lindo, ou pelo menos disse que achou tão lindo, e mostrou pro meu pai e também pras amigas dela, e mamãe e eu fiquei tao feliz de ela ter orgulho de mim, que até hoje eu penso que, se ela achar bonito um ou outro texto meu como um dia ela achou o poeminha do “amor é fogo que se junta no coração”, nenhum motivo pode ser mais nobre e quentinho do que esse.
Nelson Rodrigues. Este é um culpado indireto, coitado. Um culpado. Teve uma época em que os CEPs so tinham cinco dígitos e o Tom Jobim comprava pão na padaria Século XX sempre li jornal do rio, São Paulo d BH. Eu li isso e fiquei abismada. E porque, no dia em que ele tomou posse na Academia Brasileira de Letras, portanto, escrever era uma consequência e um dever de quem vivia ali. um talento distribuído democraticamente no ar pelos paralelepípedos. 
Bom, existem vários outros culpados por me incentivar a tão solitário esporte como a escrita, e não seria justo com o você listar toda essa gente mal-intencionada em uma única declaração de amor/parabéns.
Claro que não posso deixar o Braga, com seus textos curtos e cheios de sabiás, é faca no peito em dez minutos. Com ele aprendi a me emocionar com uma folha no asfalto, logo eu que sempre chorei sem motivo e me achei feia e você disse isso. E disse que eu era frígida sem nem ter tido oportunidade de viver outras coisas. E não precisava ir mais fundo pra encostar na beleza porque eu chorava lendo gibi.
Somos o que lemos, o que nos ensinaram, o que nos disseram ser o certo. Não é, não? Olha a autoajuda aí marcando sua presença! A sorte é que sempre dá pra fazer diferente, caro ex amor ou amor pra sempre.
Aprender. Ouvir. Mudar a perspectiva... Peço, portanto, a compaixão dos nossos irmãos cristãos — ou agnósticos ou evangélicos, ou espiritas, não importa — e arrisco aqui uma explicação psicanalítica para tantas latas de tinta de cor cinza usadas ouviu pouco jazz e Pedro  Mariano.
tinha 5 anos,  Quase 6. Um dia, voltando da escola e entusiasmado pela aula de artes, resolvi , num rompante criativo, fazer na parede um desenho de da Vênus.Mas
Ficou diferente. Porque eu sempre tive loucura por tudo o que se referia à História da arte. gostava de usar o cabelo bem amarrado.  Minha mãe, no entanto, sem ter como prever meus gostos infantis, decorou as paredes do seu quarto de menina com desenhos nossos Sendo essa a paixão do pai e do avô, nada mais natural do que manter na família o amor pela arte. Ela também explicou sobre estar sempre bem penteada e com o quarto bem organizado.
Depois fiz 10. Já usava o cabelo repartido no meio, vestidos de meias e o sapato boneca da BUÉ e ja ansiava pelas férias em praias. Os dinossauros eram página virada, e as pinturas também haviam sido deixadas de lado, eu acreditei no criacionismo mas nunca esqueci a bronca por ter desenhado fora do lugar de desenhar. E depois, a essa época, já quase não havia tempo pra brincar, era preciso falar línguas e fazer muitos esportes pra se tornar uma adulta vencedora. Fui tratada coMo
Produtor. Ninguém podia me defender. Eu
Era frágil e só sabia ler. 
Pois bem, camiLa.
Entendo sua história. Cada um tem a sua, e nenhuma é melhor ou pior do que a outra. Mas agora que você chegou tao longe e tá no comando da maior coisa da vida. Sua vida, sugiro estudar um pouco sobre a função do perdão  e do amor. Sugiro compreender o sentido da palavra intervenção. Manja Nelson
Rodrigues? Profeta Gentileza? Se não, sugiro pesquisar. Por respeito aos seus hiatos de dor. Amor quando morre sem
Morrer dói, saia de dentro de si e olhe em volta. Sua vida é linda, companheira. Tem um cinza bonito que não tem em nenhuma lata de tinta.

É big.



Com 34 anos se separou repentinamente do amor mais avassalador da sua vida. Ficou sem chão. Ela tinha filho, tinha tido carreira e empregos que deixou para se dedicar e precisou de análise, todos os discos do Tim Maia, medicamentos e sono. 
Fez sua mulher gozar.
 Ela sabia que avião só com ansiolítico e que reunião de pais só com bala de mastigar. 
Com 34 soube que não daria tempo de virar mais noites em Boates nem que poderiam escalar nada pq seu amor era dela e, ela era muito sedentária- tem coisas que se você não faz na idade certa, depois só resolve com música.
Com 34 anos pagou o aluguel, conta de luz, e comprou o primeiro vinho de R$20 bom - ainda não sabia que sentar pra jantar japonês  poderia ter tanto significado  (talvez por isso tenha demorado tanto pra comprar mesa e cadeiras para o apartamento, comendo sentados  no chão, ou diante de uma mesa de jardim por uns meses. 
Com 34 anos percebeu que não poderia mais brigar com meus pais, e que não era com eles que resolveria as lacunas da infância ou a distância da juventude. “Não era com eles”, ainda repitia vez ou outra pra si. 
Eles me deram tudo e eu os amei. 
Com 34 anos deixou pra trás uma casa onde foi feliz e onde viu o filho dela (e seu filho) pronunciar que o amava mais que tudo no mundo. O menino ficava contente ao ver a satisfação que causava nele, e então o recém pai: pronunciei - "Te amo e te beijei" e ele me beijou molhado de volta e eu olhava aquela cena sem saber ser uma terrível verdade o que intuía: nós três, de manhã, juntos e com cara de sono, ia acabar.
Com 34 anos e em carne viva por ter desfeito aquela família, eu não sabia que hoje, estaríamos juntos por causa do Amor.
E o mais avassalador momento passaria tão devagar e que sobreviveríamos, os três, a uma dor que parecia não ter fundo.
Eu também não sabia que casaria de novo numa outra onda de amor e sexo com a mesma pessoa sem ela ser a mesma pessoa e que seria tão feliz, que teria outro filho.
De repente
Com 34 anos eu não sabia que a
Política seria essa desgraça e que a economia era essa senhora que nos revela a escassez que nos tomou, e  que a cintura alta nunca mais ia sair do corpo dela. E que o Los Hermanos acabaria de repente mas jamais acabaria em seu peito de fã.
Com 34 anos eu não sabia que logo perderia meu senso de bondade que viveríamos o dias de horror na casa que eu mesmo ungi e orei.
E que no mesmo ano da derrota histórica que sofremos de nós mesmos, também eu seria goleado aqui no meu coração. 
Com 34anos não tinha o disco novo de ninguém não teria os desenhos do Lucas, não o  teria feliz a qualquer hora do dia me esperando para a leitura do lecionário, não teria o jazz que fazia minha mulhere querer namorar. 
Com 34 anos tinha o temor, das despedidas e choro todo dia na cama da casa dos meus pais: tudo doendo e sendo bom ao mesmo tempo por não estar mais lá e não ter responsabilidade. 
Era bom não ser mais jovem e era ruim não ser mais jovem. 
E tinnha um amor sangrando, doido querendo ficar e ir embora. E era muito. E era pouco. E era frágil. 

Com 34anos sabia que com outros anos continuaria sem saber como fazer pra não ter medo de amar e de dizer o que sinto.