24 de set. de 2012

Pra você sorrir (2)

Pra você sorrir


Sábia decisão é decidir amar

Desprendido pra poder subir pro

Céu que o rico não pode comprar



Pra você sorrir

Leve só o que faz bem pro coração

Um carinho pode tudo unir

Faz tão bem curar-se com perdão



Às vezes só nos falta um pouco de humor

Às vezes só nos falta pôr mais amor



No jardim sem cores

No tempo dará flores

Se plantei chorando

Sorrindo eu vou voltar



Pra você sorrir

Sábia decisão é decidir amar

Desprendido pra poder subir pro

Céu que rico não pode comprar



Pra você sorrir

Olha a leveza da criança

Sem a certeza ri e dança

Quanta beleza há na confiança



No jardim sem cores

No tempo dará flores

Se plantei chorando

Sorrindo eu vou voltar

      A coisa mais seria que tenho cantado.   é da menina Marcela;   http://letras.mus.br/marcela-tais/pra-voce-sorrir/#selecoes/2006187/

19 de set. de 2012

E de tudo fica um pouco

De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do meu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco

Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).

Pouco ficou deste pó
de que teu sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.

Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço de cata ventos
- vazio - ficou um pouco.

Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?

Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.

De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.

E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as
igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.



C.D. Andrade.

4 de set. de 2012

Os luxos do sec. 21

Segundo mademoiselle Chanel, o luxo é o oposto da vulgaridade, e ninguém entendeu mais de luxo do que ela. Foi Chanel quem libertou a mulher do espartilho, decretou que o uso de pérolas falsas era chique, cortou os cabelos curtinhos e foi seguida por todas as mulheres do mundo. Ela foi entusiasta das mulheres sem ter feito um só discurso nem queimado um só sutiã. Só na base da competência e elegância! Mas o mundo muda a cada dia e os direitos que conquistamos foram tantos, e estamos tão habituados a eles, que nem lembramos mais de como era a vida antes. Os conceitos são outros e eu me pergunto o que hoje é o verdadeiro luxo? Usar jóias, nem pensar; é um convite claro ao assalto, talvez seguido ostentação. Desnecessária!


Deixá-las no cofre não resolve pois os ladrões agora entram em nossas casas sem pedir licença. Algumas guardam seus brilhantes no cofre, e existem também as que deixam no cofre do banco, sim, contanto que seja num banco na Suíça. Então, de que adianta ter jóias? A moda virou um caos, a globalização é um fato e se você compra um vestido maravilhoso em Paris quando chega ao Brasil vê a copia- algumas até bem feitas- no alternativo, relativo.. o que chega a ser trágicomico! O luxo era exclusividade, o que hoje não existe mais. Viver uma vida de luxo é um perigo e só os poucos e recentemente ricos querem exibir sinais exteriores de riqueza. Os ricos de verdade são simplíssimos ( e aqui não falo somente de dinheiro). Conheço os que andam disfarçados pra não chamar atenção. Então Sebastião pra que ser rico? E você quer ser rico de que? E o que é o luxo nos dias de hoje? Difícil dizer. St. Tropez virou praia popular. Só é possível ir a Paris ou NY fora de estação, para ter o direito de andar nas ruas sem fazer parte de uma multidão e pra ver as obras de arte de um museu só tendo um amigo no poder, e ter o direito de alguns- só de alguns- uma vista privada, depois deles terem fechado para o publico. Como se emocionar diante da Vênus de Milo com um monte de gente em volta, barulhenta, comendo pipoca como se estivesse na porta de um estádio de futebol?

O verdadeiro luxo do século 21, é o espaço, o silencio, a privacidade, o amor, a gentileza, a sutileza, a lealdade, o brio, o perdão, a esperança, a vida vivida em função do coletivo!

Genteee! Acorda! Cade o habito sublime de ser cordial? Não ser leviano?!

Por isso muitos atravessam o mundo para chegar a uma praia deserta, seja onde for, no Ceará ou na Grécia, ou dentro do quartinho de oração, onde possam usufruir as melhores coisas da vida, poderem ouvir o som das ondas, ouvir o silencio de Deus que invade e se transforma em criatividade. Nesse lugar dá pra se dedicar ao verdadeiro luxo, que é ter o direito de respirar o ar puro, ver as estrelas do céu, dar um mergulho no mar e dormir sem ouvir o barulho de buzinas e motocicletas. Mas custa caro! Custa tudo!
Custa você plantar. Custa muita humilhação que a gente aguenta sem se queixar. Custa entregar o melhor, todos os dias, a todos!

Falando isso porque me vi completamente ilhada pela nossa mídia que deseja normatizar a experiência retirando a influencia e apagando o comportamento diário das pessoas que desejam o luxo que defendo; o direito sublime de ser. Na realidade não temos liberdade pra ser de qualquer maneira, porque somos escravos do que conhecemos hoje, e a nossa verdade é a bíblia.

Venho porque amo esse luxo; ser!

Seja luxuosa. Morra pra viver!

Bisou!