24 de abr. de 2017

É big.



Com 34 anos se separou repentinamente do amor mais avassalador da sua vida. Ficou sem chão. Ela tinha filho, tinha tido carreira e empregos que deixou para se dedicar e precisou de análise, todos os discos do Tim Maia, medicamentos e sono. 
Fez sua mulher gozar.
 Ela sabia que avião só com ansiolítico e que reunião de pais só com bala de mastigar. 
Com 34 soube que não daria tempo de virar mais noites em Boates nem que poderiam escalar nada pq seu amor era dela e, ela era muito sedentária- tem coisas que se você não faz na idade certa, depois só resolve com música.
Com 34 anos pagou o aluguel, conta de luz, e comprou o primeiro vinho de R$20 bom - ainda não sabia que sentar pra jantar japonês  poderia ter tanto significado  (talvez por isso tenha demorado tanto pra comprar mesa e cadeiras para o apartamento, comendo sentados  no chão, ou diante de uma mesa de jardim por uns meses. 
Com 34 anos percebeu que não poderia mais brigar com meus pais, e que não era com eles que resolveria as lacunas da infância ou a distância da juventude. “Não era com eles”, ainda repitia vez ou outra pra si. 
Eles me deram tudo e eu os amei. 
Com 34 anos deixou pra trás uma casa onde foi feliz e onde viu o filho dela (e seu filho) pronunciar que o amava mais que tudo no mundo. O menino ficava contente ao ver a satisfação que causava nele, e então o recém pai: pronunciei - "Te amo e te beijei" e ele me beijou molhado de volta e eu olhava aquela cena sem saber ser uma terrível verdade o que intuía: nós três, de manhã, juntos e com cara de sono, ia acabar.
Com 34 anos e em carne viva por ter desfeito aquela família, eu não sabia que hoje, estaríamos juntos por causa do Amor.
E o mais avassalador momento passaria tão devagar e que sobreviveríamos, os três, a uma dor que parecia não ter fundo.
Eu também não sabia que casaria de novo numa outra onda de amor e sexo com a mesma pessoa sem ela ser a mesma pessoa e que seria tão feliz, que teria outro filho.
De repente
Com 34 anos eu não sabia que a
Política seria essa desgraça e que a economia era essa senhora que nos revela a escassez que nos tomou, e  que a cintura alta nunca mais ia sair do corpo dela. E que o Los Hermanos acabaria de repente mas jamais acabaria em seu peito de fã.
Com 34 anos eu não sabia que logo perderia meu senso de bondade que viveríamos o dias de horror na casa que eu mesmo ungi e orei.
E que no mesmo ano da derrota histórica que sofremos de nós mesmos, também eu seria goleado aqui no meu coração. 
Com 34anos não tinha o disco novo de ninguém não teria os desenhos do Lucas, não o  teria feliz a qualquer hora do dia me esperando para a leitura do lecionário, não teria o jazz que fazia minha mulhere querer namorar. 
Com 34 anos tinha o temor, das despedidas e choro todo dia na cama da casa dos meus pais: tudo doendo e sendo bom ao mesmo tempo por não estar mais lá e não ter responsabilidade. 
Era bom não ser mais jovem e era ruim não ser mais jovem. 
E tinnha um amor sangrando, doido querendo ficar e ir embora. E era muito. E era pouco. E era frágil. 

Com 34anos sabia que com outros anos continuaria sem saber como fazer pra não ter medo de amar e de dizer o que sinto.



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